Louie Louie | Os discos afirmam-se

Entre procurar e descobrir novas formas de fascinar uma geração desabituada a pagar para ouvir música, há sempre alguém nalgum sitio, que se mantém à superfície. Como a Louie Louie. Esta loja faz da música um motivo para continuar a dar vida aos nossos gira-discos.

“Nós aqui só contratamos pessoal agarrado aos discos”, diz André entre risos. Juntamente com o Hugo e a Filipa, garantem a longevidade da Louie Louie que se mudou para as Escadinhas do Santo Espírito da Pedreira há cinco anos, na Baixa-Chiado, depois de outros cinco na Rua Nova da Trindade.

Estar atento ao mercado e não tomar decisões precipitadas. Há estrutura e compromisso. “Gostamos de música e é isso que tentamos dar às pessoas, ponto. Desde rock alternativo, anos 80, new waves, reggae, música clássica, metal. Tentamos fazer um pouco à imagem daquilo que também gostamos. Apesar de cada um ter a sua tendência, procuramos dar um bocadinho disso aos nossos clientes. Que cheguem aqui e encontrem algo com que se identifiquem. Aquela coisinha que fale com elas”.

Porque o vinil suporta sobretudo memória com ele. E talvez não seja tanto o “calor” ou só as qualidades sonoras deste objecto que o fazem especial. É a atenção que se lhe dá e que ele oferece de volta a quem o ouve. É uma conexão palpável. Se há muitos meios através dos quais se pode ouvir música, há também muita vontade de a materializar. “Muito pessoal vem aqui e diz-nos que ainda nem tem um gira-discos, mas compram na mesma. Não tem como o ouvir, mas tem de ter a peça”. E assim, à sua volta, acabou por ressurgir o culto. “A questão é essa, é que antigamente era só um meio. Era o que havia. Hoje em dia não”, diz André.

Antes o processo para chegar às novidades era mais complicado, mas também dava muito mais gozo. “Lembro-me que uma das coisas que fazia, religiosamente quando saía um álbum novo, era ver os agradecimentos. E ver as bandas que a banda que eu gostava agradecia. E ia fazendo uma busca meio randómica pelos CD’s e encontrava bandas que me lembrava. Havia muito mais essa busca. Agora, as coisas vêm ter connosco, atacam-nos quase”.

A venda inevitável na Louie Louie? Os Pink Floyd, por exemplo, e se for o Dark Side of the Moon, mais fácil é. “O facto daquela capa também ter sido reproduzida em tudo e mais alguma coisa, acaba por ter essa influência exterior”. O Alchemy: Dire Straits Live, se estiver nas prateleiras, sai com facilidade também. “Nós próprios temos alguma dificuldade em seguir os álbuns que estão a sair, é complicado. Num mês saem uns quatro álbuns grandes”.

Depois há, naturalmente, o lado estético do disco. O interesse em comprar uma versão em vinil mais elaborada permite fazer certas indulgências porque apela directamente ao gosto pessoal de cada um. Combinam-se os pontos fortes do formato para provar os seus atributos: a grandeza e o realismo.

Ainda é a melhor maneira de ouvir música? Depende de como se quer ouvi-la. No entanto, há algo sobre a experiência de vinil que é de longe a experiência mais compensadora e que o digital, mesmo sendo um meio bastante conveniente, não lhe chega de perto. Não tem o tempo.

www.louielouie.biz

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por: Teresa Melo
fotografia: Louie Louie

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